Batizada como estrela-das-montanhas (lindo nome!), a nova espécie de margarida foi encontrada no município de Castelo, no sul do Espírito Santo, por pesquisadores do Instituto Nacional da Mata Atlântica (INMA) e da Universidade Federal de Goiás (UFG).
A descoberta aconteceu em maio de 2023 nas proximidades das comunidades de Barra Alegre e Estrela do Norte, durante expedição científica que tinha como missão documentar a flora dos inselbergues, conhecidos também como ilhas terrestres da Mata Atlântica ou afloramentos rochosos capixabas.
Inselbergues são grandes maciços rochosos muito comuns no ES, que se destacam em meio à vegetação nativa do bioma – como também a plantações agrícolas e pastagens – e, devido às grandes falésias verticais, atraem praticantes de esportes radicais de várias partes do mundo.
“Esses afloramentos rochosos, originalmente rodeados pela floresta, funcionam como ilhas terrestres, pois estão isolados na paisagem, de forma que as espécies que ali ocorrem têm suas populações isoladas umas das outras por um ‘mar de floresta’, atualmente representado por pastagens e plantios agrícolas”.
Nova e ameaçada
Segundo os cientistas, a estrela-das-montanhas é exclusiva dessa área rochosa – daí seu nome científico: Wunderlichia capixaba – e já corre alto risco de extinção caso não seja protegida.
Foi assim que eles classificaram a nova espécie de margarida, seguindo os critérios da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
É o que revelam no artigo publicado na revista científica Phytotaxa, ontem (9), a respeito deste “achado importante para a ciência”. Até agora, “não havia nenhuma descrição de uma nova espécie do gênero Wunderlichia na Mata Atlântica, em cinco décadas. As últimas (3) foram descritas em 1973: Wunderlichia azulensis, W. bahiensis e W. senae”, informa a Agência Bori.
“Até onde sabemos, a Wunderlichia capixaba é restrita aos inselbergues da região sul do Espírito Santo, em locais acima dos 900 metros de altitude”, acrescenta Manhães.
A estrela-das-montanhas vive sobre as encostas rochosas expostas ao sol pleno, em meio a bromélias, orquídeas, quaresmeiras, entre outras espécies que compõem a vegetação dos inselbergues.
Conservação e políticas públicas
Mesmo pouca conhecida, a biodiversidade dos inselbergues tem grande importância biológica e ainda existem diversas áreas nessa região que nunca foram investigadas pela ciência.
“Percebemos imediatamente que era uma espécie nova, devido ao seu pequeno porte, características das flores e folhas persistentes, diferentes das conhecidas no gênero”, conta Dayvid Couto, pesquisador do INMA e coautor do estudo.
A suspeita inicial foi logo confirmada pelo especialista Aristônio Teles – durante período em que atuou como pesquisador-visitante na instituição -, quando este viu as fotografias da planta feitas pelos pesquisadores no campo, além de amostras coletadas.
“Assim que vi o material e as imagens da planta, soube que se tratava de um novo táxon”, destaca o professor e pesquisador da UFG, que também assina o estudo. “A partir daí, unimos esforços para retornar ao habitat da espécie, complementar a documentação da população e descrever a nova espécie”.
O grupo de pesquisadores está empenhado em documentar a biodiversidade das ilhas rochosas da Mata Atlântica do Espírito Santo também com o intuito de garantir subsídios para políticas públicas que visem a conservação (e o uso sustentável) desse ecossistema e de suas espécies já tão ameaçadas.
“Sem políticas públicas, muitas espécies – como a nova espécie de margarida – podem desaparecer antes mesmo de serem conhecidas pela ciência”, sentencia Couto.
Com informações da Agência Bori