Mesmo após todos esses anos, fazer uma cirurgia no ligamento dos joelhos pode ser um desafio para a comunidade médica. A parte difícil é usar o material de enxerto de ligamento fibroso (que é macio e úmido) no osso (que, como você já deve saber, é bem duro). Mas pesquisadores da McGill University, do Canadá, fizeram novas descobertas que podem beneficiar esses procedimentos. Tudo isso ao observar a casca de um ovo.
No artigo, publicado na revista iScience, com técnicas que vão de raio-X a imagens 3D e até criopreservação, a equipe observou detalhadamente como a casca de ovo consegue se ligar à membrana fibrosa úmida (uma fina camada encontrada dentro da casca).
Quando o ovo se desenvolve, a casca envia nanospikes para as fibras da membrana, que envolve o conteúdo mole do interior do ovo. Esses nanospikes são estruturas microscópicas que se assemelham a pequenas protuberâncias. Nesse caso, são pequenas compostas de minerais e desempenham um papel importante na interação entre a casca do ovo e sua membrana, facilitando processos como a adesão e a estabilidade estrutural.
De acordo com o anúncio da universidade, o processo de fixação de nanospike entre dois materiais altamente diferentes “aumenta substancialmente a área superficial da interface entre as fibras orgânicas macias e úmidas e o mineral inorgânico duro e em grande parte seco”.
A equipe explica que o procedimento é importante para evitar o escorregamento e deslizamento das fibras.
Se a membrana se desprendesse da casca, isso pode ser letal para o embrião do pintinho dentro do ovo, porque resultaria não só no enfraquecimento da casca, como também tornaria mais fácil a invasão de patógenos.
Descoberta pode ajudar em cirurgias
Os cientistas acreditam que descobrir essa interação entre uma superfície muito mole e uma superfície muito dura pode ajudar a longo prazo, no desenvolvimento de novos materiais para cirurgias reconstrutivas, como adesivos biocompatíveis, já que em cirurgias de reconstrução de ligamento do joelho, a fixação adequada do enxerto é crucial para o sucesso da cirurgia e para a recuperação do paciente.
Assim, o estudo pode servir de pontapé inicial para ideias de materiais que ajudem a reduzir o tempo necessário para a integração do enxerto com o osso circundante e minimizar o risco de complicações, como o deslocamento do enxerto.
Também há potencial para novos materiais que estimulem a cicatrização e regeneração do tecido, promovendo assim uma resposta biológica favorável no local da cirurgia, levando a uma recuperação mais rápida e em uma maior resistência do enxerto a forças mecânicas após a cirurgia de ligamento do joelho.
Reconstrução de ligamento no joelho
Uma cirurgia de reconstrução de ligamento no joelho ajuda a reparar ou até mesmo substituir um ligamento rompido ou danificado. Para garantir a estabilidade e a função adequadas do joelho após a cirurgia, é essencial que o enxerto seja firmemente fixado ao osso, geralmente por meio de âncoras metálicas. Também é importante que o enxerto se integre adequadamente com o osso para promover a cicatrização e a regeneração do tecido.
A fixação inadequada do enxerto pode levar a complicações pós-cirúrgicas, como o deslocamento do enxerto, a falha da reconstrução do ligamento ou a instabilidade articular. Portanto, é essencial desenvolver técnicas e abordagens que otimizem essa fixação. Os cientistas esperam que as novas informações obtidas através da observação da casca de ovo ajudem nessa tarefa.
Fonte: McGill University, iScience, NHS