Casos de pneumonia em SP acendem alerta para bactéria que causou surto na China

Casos de pneumonia em SP acendem alerta para bactéria que causou surto na China

Doença respiratória se espalhou no norte da China, levando à lotação de hospitais — Foto: Reprodução/AFP

A cidade de Santo André, no Estado de São Paulo, registrou um surto de pneumonia causada pela bactéria Mycoplasma pneumoniae entre crianças que frequentam a mesma escola. O microrganismo é o responsável pelo alerta de saúde recente na China em meio a um aumento significativo nos casos de internação pediátrica.

As informações foram reveladas pelo jornal Folha de São Paulo e confirmadas ao GLOBO pela Secretaria de Estado da Saúde paulista (SES-SP). A pasta, porém, destaca que a bactéria não é incomum e que as identificações “não necessariamente representam gravidade”.

“A SES-SP informa que possui cinco casos de pneumonia confirmadas com a bactéria Mycoplasma pneumoniae. Os casos concentram-se em menores de quatro anos. É importante ressaltar que se trata de uma pneumonia bacteriana relativamente comum, de característica sazonal, ou seja, o número de casos varia de acordo com a época do ano e não necessariamente representa gravidade”, diz em nota.

De acordo com a apuração da Folha de São Paulo, os casos foram registrados no boletim do Centro de Informações Estratégicas e Resposta em Vigilância em Saúde (Cievs) do último dia 26. As crianças têm entre 3 e 4 anos e foram hospitalizadas, mas estão bem. A primeira internação foi relatada no dia 18 de novembro, na capital do estado paulista. A mais recente ocorreu no último dia 15. Os pacientes permaneceram hospitalizados por um período que durou de 4 a 20 dias.

Em ao menos dois casos, houve também a detecção de um rinovírus, patógeno que causa resfriados comuns. Outros quatro alunos que estudam na mesma escola também apresentaram sintomas gripais, mas os exames não confirmaram a presença da bactéria.

A Mycoplasma pneumoniae é uma causa conhecida de pneumonia, principalmente em crianças, mas que estava em baixa desde o início da pandemia. Ela não costuma provocar casos graves e pode ser tratada com antibióticos, porém o aumento da resistência bacteriana aos medicamentos favorece a ocorrência de quadros que demandam hospitalização.

No fim de novembro, um elevado número de casos de pneumonia entre crianças na China, que foi associado à bactéria, entre outros agentes, provocou um alerta da Organização Mundial da Saúde (OMS), que afirmou monitorar de perto a situação. O país asiático já detectava desde maio um crescimento expressivo da bactéria Mycoplasma pneumoniae.

O episódio causou apreensão, mas pesquisadores pelo mundo já esperavam uma onda atípica da M. pneumoniae uma vez que, desde a queda expressiva da circulação de agentes infecciosos com o período de isolamento da pandemia, ela não tinha voltado ainda a se disseminar de forma significativa.

Em um estudo de agosto do ano passado, na revista científica The Lancet Microbe, cientistas do Grupo de Estudo para Infecções por Micoplasma e Clamídia (ESGMAC) da Sociedade Europeia de Microbiologia Clínica e Doenças Infecciosas (ESCMID) escreveram:

“Não sabemos quando a M pneumoniae reaparecerá; no entanto, quando isso acontecer, uma onda excepcionalmente grande de infecções pode ocorrer como resultado da exposição reduzida, com um aumento resultante de doenças graves raras, manifestações extrapulmonares ou ambas. A vigilância contínua poderia ajudar a alertar para o ressurgimento do M pneumoniae”.

Agora, países ao redor do planeta registram de forma simultânea o ressurgimento esperado, como França, Estados Unidos, Dinamarca, Holanda, Suécia, Suíça, País de Gales, Eslovênia e Cingapura. É o que mostra inclusive um novo trabalho do mesmo grupo que fez o alerta em 2022. A nova análise foi publicada no mês passado, também na The Lancet Microbe.

“Este ressurgimento tardio é impressionante porque ocorreu muito depois de os NPI (intervenções não farmacológicas, como máscaras e isolamento) terem sido descontinuados e porque é, até onde sabemos, um fenômeno único deste agente patogênico”, escreveram os pesquisadores do ESGMAC.

No Brasil, como a infecção pela bactéria não tem notificação obrigatória, não há dados detalhados sobre o número de casos registrados.

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